quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dispositivo que alerta para crises de Epilepsia

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra lidera um projecto internacional que desenvolve um dispositivo para ser usado por doentes epilépticos, capaz de alertar para uma nova crise com algum tempo de antecipação.
António Dourado, líder da equipa de investigação iniciada há três meses, disse à agência Lusa que espera poder alcançar um «tempo de antecipação mínimo de 15 minutos», entre o alerta e a ocorrência da crise epiléptica.
Para o docente da área da informática, quanto maior for o tempo de antecipação melhor, mas os 15 minutos já permitem ao paciente imobilizar a viatura se vai a conduzir, parar o seu trabalho e evitar eventuais acidentes e resguardar-se socialmente dos aspectos negativos que comporta essa doença.
«O doente epiléptico tem grandes limitações de integração social» e, através deste dispositivo de alerta, isso poderá ficar esbatido, observou.
O Sistema de Alarme Inteligente Transportável para Pacientes com Epilepsia, indicado para aqueles que não podem ser tratados com fármacos, consiste num conjunto de eléctrodos que são colados no couro cabeludo do paciente, ligados a um dispositivo de aquisição e emissão de sinal, a transmitir para um computador portátil que o processa.
Se se está perante sinais de uma crise epiléptica é emitido um alerta sonoro ao paciente.
Este será o dispositivo que dentro de dois anos e meio será testado em pacientes de Portugal, França e Alemanha, cinco por país, mas António Dourado admite que tecnologicamente será possível que o dispositivo de recepção e processamento do sinal tenha a dimensão de um maço de tabaco, ou que o sinal seja transmitido por comunicação móvel para um computador que o processa, e até para um centro de apoio, para mobilização de ajuda.
Com um orçamento global de 4 milhões de euros, o projecto, denominado EPILEPSIAE - Evolving Platform for Improving Living Expectations of Patients Suffering from Ictal Events, é financiado pela União Europeia em 3 milhões de euros.
Tem como parceiros os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), o Centro Nacional de Investigação Científica de França, a Universidade Pierre et Marie Curie e o Laboratório de Neurociências Cognitivas do Hospital Pitié - La Salpêtrière (França), a Universidade Albert Ludwigs e o Hospital Universitário de Friburgo (Alemanha) e ainda a Empresa Micromed, de Itália, que será responsável pela fabricação e comercialização mundial do equipamento, no final da investigação.
De acordo com uma nota do Departamento de Comunicação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), o objectivo central do EPILEPSIAE é encontrar soluções tecnológicas de informação e comunicação capazes de prever o surgimento de uma crise de epilepsia, para que o doente possa tomar medidas atempadas, isto é, monitorizar os seus próprios riscos e ter a crise em privado, por forma a melhorar a sua segurança na vida diária e facilitar a sua integração social.
A equipa multidisciplinar liderada por António Dourado, que envolve 15 investigadores de Coimbra, está a desenvolver algoritmos de inteligência computacional para detectar as crises epilépticas com alguma antecedência, medindo em permanência, através do electroencefalograma e electrocardiograma não invasivos, o estado neuronal do doente, acrescenta.
O mesmo grupo de investigadores participa também activamente no desenvolvimento de uma Base de Dados Europeia de Epilepsia que registe em forma adequada a informação multisensorial recolhida dos pacientes, a ser usada para o desenvolvimento do conhecimento através de técnicas avançadas de exploração de dados (Semantic mining).
«É um enorme desafio científico e clínico. Conseguir melhorar a qualidade de vida e segurança destes doentes é uma preocupação mundial. A comunidade científica tem desenvolvido alguns estudos, mas até ao momento ainda não surgiu uma solução.
Os doentes epilépticos que não podem ser tratados com fármacos estão sujeitos a crises em qualquer altura, tornando o seu quotidiano numa permanente e desagradável aventura, que os impede de realizar inúmeras tarefas. Por outro lado, a sua integração social é altamente limitada», salienta António Dourado.
A ideia, e a premência, de desenvolver este projecto parte da colaboração com especialistas da Clínica de Epilepsia dos HUC, nomeadamente com o clínico Francisco Sales, no âmbito dos Projectos de Engenharia Biomédica.
A partir daí foram estabelecidos contactos com os vários parceiros, entre os quais se contam «os centros europeus mais conceituados na área», a proposta foi trabalhada em conjunto e o consórcio de investigação criado, acrescenta o investigador, que é igualmente Coordenador do Grupo de Computação Adaptativa do CISUC (Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra), ao qual estão também ligados outros investigadores deste projecto, nomeadamente da Inteligência Artificial e de Bases de Dados desse Centro.
A epilepsia é a doença neurológica mais frequente. Na Europa existem actualmente 6 milhões de epilépticos.

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